Remédios para emagrecer, um mau negócio!

06/09/2011 17:19

Os possíveis benefícios destas drogas não superam os riscos do seu uso.

Emagrecer rápido e ficar magro é o sonho de grande parte das pessoas. O problema surge quando elas percebem que terão que fazer uma reprogramação de hábitos através de dieta, reeducação alimentar e prática de atividade física. Muitos buscam uma pílula mágica que lhes tire o apetite e assim não terão que mudar seus hábitos de vida. A perda de peso virá célere e todos serão felizes para sempre.

Este é um grande engano e, infelizmente, um grande engodo prometido por muitos profissionais – a pílula mágica não existe. O uso de medicamentos para emagrecer, além de ineficaz a longo prazo, apresenta inúmeros riscos para a saúde. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) quer banir a comercialização de todas as drogas usadas para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol).

Por seu poderoso efeito inicial de perda de peso, rápido e sem esforço, o uso de medicamentos seduz os incautos consumidores. O que eles muitas vezes não sabem é, que se não houver um aprendizado de como se manter magro, todos os quilos perdidos rapidamente retornam e, na próxima vez, o efeito do coquetel medicamentoso já não será tão eficaz, havendo necessidade de reajuste da dose para cima. Além disso, há inúmeros efeitos colaterais e danos à saúde, sendo que em alguns casos pode haver sequelas irreversíveis e até a morte. Diversos outros medicamentos para emagrecer já foram retirados do mercado por apresentarem reações inesperadas e danos graves.

É comum se ver receitas prescritas por diligentes doutores que preferem ignorar este perigo, e pior, não alertam seus pacientes do grave risco que correm ao usar esses coquetéis. Nestas receitas manipuladas, chamadas de “fórmulas”, se misturam derivados anfetamínicos, calmantes, antidepressivos, diuréticos, laxantes, hormônios da tireóide e antiácidos. Muitos profissionais disfarçam estas fórmulas acrescentando fitoterápicos, minerais ou vitaminas, dizendo se tratar de uma “fórmula natural”, ortomolecular ou homeopática. Um absurdo!!!

E porque se usa tantas substâncias diferentes numa mesma fórmula? Para contrabalançar e mascarar os efeitos colaterais dos inibidores de apetite, só que estas outras substâncias também possuem efeitos colaterais e assim temos uma verdadeira cascata de reações indesejáveis e prejudiciais à fisiologia do organismo. Além disso, a associação medicamentosa pode provocar efeitos adversos inesperados e potencialmente letais.

Os derivados anfetamínicos, além de suprimir o apetite, deixam a pessoa “ligada”, agitada, irritada, sem sono e, depois de algum tempo, com forte tendência à depressão. Para minimizar estes efeitos o médico receita calmantes e antidepressivos, os quais podem levar à dependência química. As anfetaminas também ressecam a mucosa intestinal o que leva a prisão de ventre, agravada pela baixa ingestão de alimentos (pobre formação de bolo fecal) – então se acrescenta um laxante no coquetel, que contribui para a perda rápida de peso e também para a desnutrição pela perda de importantes vitaminas e sais minerais. Um ou dois diuréticos se somam para eliminar líquidos e aumentar a perda de peso, e mais minerais essenciais são eliminados via urina. Hormônios da tireóide aceleram a perda ponderal e tem lugar garantido nestas poções mágicas – os efeitos colaterais são sérios, podendo inclusive causar alterações na função da glândula tireóide. Esta balbúrdia química causa irritação da mucosa gástrica – solução: acrescentar um antiácido potente, que contribui com mais efeitos adversos.

Estima-se que cerca de 50 a 60% das pessoas que procuram ajuda profissional consomem as drogas emagrecedoras em “fórmulas” – preparadas em farmácias de manipulação, a partir da receita de um médico. O paciente acredita estar tendo um tratamento personalizado, no entanto as diferenças entre uma formulação e outra são mínimas, e os efeitos colaterais são os mesmos.

O consumo de inibidores de apetite no Brasil é superior a 20 toneladas por ano (fonte: Cebrid – Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas), visto que os remédios para emagrecer garantem efeitos mais rápidos para os pacientes, e o aumento da clientela dos médicos, cujos consultórios vivem lotados e muitas vezes o paciente tem que esperar meses até conseguir agendar uma consulta. É importante insistir que essa rápida perda de peso está associada a grandes prejuízos à saúde.

A INCB (International Narcotics Control Board) já recomendou que o Brasil tomasse medidas administrativas e legais para controlar o consumo de medicamentos psicotrópicos e para emagrecimento, uma vez que representam um enorme risco potencial à saúde do consumidor. O Brasil é o país campeão mundial em consumo de remédios para emagrecer (fonte: Comissão Internacional de Controle de Narcóticos da ONU).